Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Alberto Caeiro
Este belíssimo trecho de um poema de Alberto Caeiro, um dos mais notáveis heterónimos de Fernando Pessoa, vem de todo a propósito para uma compreensão do quão intensa e rica foi a vida do meu bom Amigo, falecido no passado dia 25 de Maio, o Senhor Conde d’Aurora.
Na realidade, o Dr. João de Sá Coutinho, por tudo que nos contava, com detalhes deliciosos e memórias carregadas de descrições, denotava uma vida intensa em que todos os dias foram, realmente, dele, desde a sua juventude à idade maior, esta última passada na sua grande parte em Ponte de Lima, na Casa de Nossa Senhora de Aurora, que o viu nascer.
O seu fino trato, o fidalgo receber e, acima de tudo, um senso de humor muito fora do comum – apurado e cheio de requinte –, levavam-nos de imediato a entender a riqueza da carreira diplomática que pautou a sua vida e que faz dele, em muitas situações nacionais e internacionais, uma referência da História da nossa contemporaneidade.
Escrevo estas linhas nas vésperas do Dia de Corpo de Deus, tão importante para nós Limianos, pela tradição da Vaca das Cordas. O Conde d’Aurora, aficionado das lides taurinas desde sempre, como se prova por alguma iconografia e cartazes de garraiadas organizadas em Ponte de Lima, em prejuízo da vinha e de outras culturas, tinha, anualmente, essa visita especial na sua Casa de Nossa Senhora de Aurora, local de saída e recolha da que muitos consideram a mais importante tradição de Ponte de Lima – a Vaca das Cordas.
Exemplo de cidadania, sabia fazer amigos em todo o lado por onde passava. Uma palavra de animo, uma brincadeira sempre refinada, fizeram dele um Homem apreciado pelos seus concidadãos e que tenho a certeza absoluta, numa vida de entrega às nobres funções que desempenhou, no âmbito familiar, na sociedade em que se integrava e na gestão do seu importante património, podia afirmar sem qualquer pejo: “todos os dias são meus”.
In: LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 28, de Junho de 2012
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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