Breves notas sobre a minha actividade com o Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, Dr. João Gomes de Abreu de Lima
Antes da eleição do Dr. João d’Abreu de Lima para Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, o único encontro directo que com ele tinha tido fora esporádico e fugidio, na casa limiana de seu irmão Francisco. Foi isto por alturas de 1971/1972, em encontro essencialmente profissional, trabalhando eu no Fundo de Fomento da Habitação no Porto.
Entretanto, conhecia-o suficientemente de tradição, pois é possuidor de um nome assaz respeitado.
Não foi, portanto, com surpresa que, começando a trabalhar com o Dr. Abreu de Lima, pude apreciar as suas altas qualidades humanas, a sua inteligência e bom senso, além de grande pertinácia na defesa de Ponte de Lima.
Pessoa de consensos, mas intransigente a seguir o recto caminho, senti-o sempre admirado e querido por todos aqueles com quem eu também lidava. E acabei por reparar que muita gente, quando habitualmente a ele se referia, tratava-o, simples, respeitosa e carinhosamente, pelo “Dr. João”. Julgo ser esta uma das melhores consagrações que se pode fazer a alguém.
As nossas relações – quer humanas, quer pessoais, quer profissionais – iam-se estreitando à medida que o tempo passava. Posso dizer que, sendo da mesma geração, tínhamos idêntica estrutura intelectual e cultural. Havia, de facto, grande sintonia entre nós, sentindo-se perfeitamente serem mútuos o respeito e a confiança que tínhamos um pelo outro.
Várias vezes fui recebido na sua casa do Outeiro, com toda a simplicidade, com a finalidade de conversarmos à vontade sobre qualquer problema que gostaria de ver resolvido, ou até para trocarmos ideias sobre assuntos da actualidade limiana.
Julgo ter sido numa dessas ocasiões que conversámos sobre a nova ponte, então quase concluída, e cuja construção o Dr. Abreu de Lima defendia. Sem ter qualquer voto decisivo na matéria, fui sempre um acérrimo defensor da sua construção. Com o projecto já executado, e de acordo com o Presidente da Câmara, cheguei até a reunir com seus dois autores: o técnico, Prof. Eng. Correia de Araújo e o artístico, Arq.º Januário Godinho. E sempre encontrei aquilo que, de antemão, já sabia teria de acontecer, ou seja um grande apuro científico e técnico, e uma consciente preocupação de ordem artística e ambiental.
Sabia-se haver, entretanto, acérrimos críticos daquela construção, pois acreditavam que iria destruir a excepcional paisagem limiana.
É evidente que o Dr. Abreu de Lima tinha plena consciência de que a modernidade, por si só, não é um mal. E sabia ser necessário que as novas realizações sejam realmente “modernas”, como reflexo duma determinada época mas respeitando conscientemente o que é antigo, sem esquecer que este também fora moderno na sua época. Era importante, sim, ir caminhando numa perfeita continuidade, em seguro e consciente progresso.
Talvez tenha sido a pensar nisto tudo, que o Dr. João d’Abreu de Lima, inesperadamente, me tenha pedido para escrever um artigo sobre a nova ponte, para o número em preparação do “Arquivo de Ponte de Lima”, que seria dedicado à sua inauguração. Acedi de bom grado, prometendo entregá-lo a tempo para publicação.
Sabia que ele o aprovaria, mas restava-me a dúvida se a abordagem que dera ao tema seria inteiramente do seu agrado, e se entendia que poderia interessar o leitor comum.
De facto, iniciara o pequeno artigo de modo talvez pouco ortodoxo, abordando a importância dum curso de água na formação, fixação e desenvolvimento dos mais diversas estabelecimentos humanos, e a necessidade de criação duma ligação – quer dizer, exactamente, uma ponte – entre ambas as margens. Prossegui citando exemplos. E concluí, com a certeza de que a nova ponte seria um factor de desenvolvimento da vila, desenvolvimento que importava prever para poder ser correctamente planeado. Por isso dei ao artigo o título de “O Rio e a Ponte – a Ponte e o Burgo”, acompanhando-o de dois esquemas elucidativos.
Creio que foi mesmo junto à ponte, no dia da sua inauguração e com a presença do Secretário de Estado da Cultura da época, Dr. Francisco Lucas Pires, que o Dr. Abreu de Lima me chamou ao lado e me disse: “Que bonito o seu artigo, Sr. Arquitecto, gostei muito dele. Parabéns” (1).
Valera a pena o meu pequeno esforço. Não há dúvida de que ambos funcionávamos no mesmo comprimento de onda.
Dentro do muito que ainda poderia relatar, só quero lembrar a sua digna e inteligente atitude, ao chamar para Ponte de Lima, com o fim de tratar do Arquivo Municipal e de o manter em ordem, aquela grande figura quase desprezada na sua Viana, José Rosa de Araújo, que passou praticamente a viver, entusiasmado, na “Torre da Cadeia Velha” – mais um símbolo da nobre Ponte de Lima.
Bem-haja, meu amigo Dr. João d’Abreu de Lima, e aceite o meu forte abraço de reconhecimento e muita amizade.
Porto, 16 de Outubro de 2013
Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 35, de Dezembro de 2013
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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