Para a Análise Conversacional de Arca de Noé, III Classe de Aquilino Ribeiro
(Dissertação em Linguística, especialidade em Teoria do Texto, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, em finais de 1994 e defendida em 29-05-1995, para a obtenção do grau de mestre)
Resumo
É na área da Linguística, especialidade de Teoria do Texto, em geral, e da Análise Conversacional, em particular, que se desenvolve este estudo.
Um texto é o produto linguístico de um complexo processo discursivo que, sob dois planos principais, deve ser considerado: sequencialidade e configuracionalidade. Em síntese, o primeiro aspecto diz respeito às unidades de dimensão e tipologia variável que estruturam um texto, à conexão dessas unidades entre si e com o todo textual de que fazem parte; o segundo aspecto diz respeito à organização pragmática de um texto, que passa dimensões de coesão semântica, de ancoragem enunciativa e de orientação argumentativa. Um texto não é um amontoado de palavras ou um simples alinhamento de frases, mas um todo estruturado e intencionado, construído (produção/emissão) e reconstruído (recepção/interpretação) num determinado contexto de comunicação.
Tais planos, complementares entre si, encontram-se presentes em qualquer texto, seja ele constituído por uma ou mais sequências tipologicamente homogéneas ou heterogéneas. Objectos também culturais, qualquer texto é a realização mais ou menos completa, mais ou menos complexa, de um modelo prototípico, em competência reconhecido.
Um conto é um texto que, apresentando embora uma determinada estrutura homogénea ao nível das macro-proposições, é, todavia, heterogéneo ao nível das sequências que constituem. Se, por definição, nele predomina(m) a(s) sequência(s) narrativa(s), nela(s) integrada(s) se encontram também uma ou mais sequência de outro(s) tipo(s). Sobretudo dialogais. Relato curto, o conto é a representação de um instante de vida, de um episódio humano ou humanizado. Daí a presença do diálogo na sua composição, como forma privilegiada de interacção humana, de configuração de encontros, dramas e conflitos.
Os diálogos são sequências discursivo-textuais mais ou menos homogéneas ou heterogéneas. Constituem-nos, porém, unidades de dimensão e complexidade variável que as definem como realizações de interacções verbais, isto é, como um tipo de discurso-textro colectivamente construído por dois ou mais interlocutores, numa dada situação. As interacções verbais, autênticas ou ficcionais, autónomas ou integradas noutras sequências, constituem, ao nível da sua estrutura e organização, por um lado, e das relações interpessoais que manifestam, por outro, o objecto específico da Análise Conversacional.
Discursos-textos complexos e heterogéneos, aos níveis referidos, são as narrativas de Aquilino Ribeiro de Arca de Noé, III Classe, de que se toma o conto «Mestre grilo cantava e a giganta dormia como principal corpus de aplicação da teoria adoptada[1]. Apresenta, este conto, por um lado, uma composição que realiza a macro-estrutura prototípica do texto narrativo e, por outro, abundantes e variadas sequências dialogais (fáticas e transacionais) em discurso directo reproduzidas. Na sua riqueza discursiva, muito próxima da linguagem autêntica, os diálogos do Mestre Grilo são vivas representações de conflitos e encontros, humores e saberes, debates e disputas. Nas suas principais interacções verbais, encontra-se realizada, por isso, a classificação que, baseada nos actos de linguagem dos interlocutores, Sylvie Durrer porpõe em diálogos polémicos, didácticos e dialécticos[2]. Pelo que fazem, dizendo, são caracterizadas as personagens que aqueles mundos possíveis habitam, interlocutores que, na sua diversidade humana e animal, representam também competências discursivas e conversacionais distintas.
Este estudo é a aplicação de um quadro teórico sde análise textual a um texto narrativo – o conto – na sua complexidade sémio-discursiva. Trata-se de um contributo teórico e metodológico necessário à compreensão dos fenómenos da textualidade, com que todos os dias entramos em contacto, em diálogo ou à procura dele.
[1] ADAM, J.-M., 1990: Éléments de Linguistique Textuelle. Liège: Mardaga; 1992: Les Textes: Types et prototypes. Récit, descriptiom, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan.
[2] DURRER, S., 1994: Le Dialogue Romanesque. Style et structure. Genève: Droz.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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