Poemas de José Sousa Vieira

 

Poemas de José Sousa Vieira

 

Rio Lima

 

O mar

absorve-me o olhar.

 

Prefiro o Rio Lima:

deixa-me, sempre,

outra margem.

 

descontos diversos – pág. 14

 

 

 

A minha terra

 

a minha terra

é um largo muito grande,

 

e os homens

são como os plátanos

da marginal.

 

só quem conhece

a minha terra

sabe o amor numa folha

a dor na distância.

 

a minha terra

não é nada

e marca-nos tanto.

 

descontos diversos – pág. 15

 

 

 

Ponte de Lima

 

Ponte de Lima,

filha de rio e pedra

companheira de durar

mãe de plátanos e areia

 

Olhai por nós

 

Não vos deixeis roubar

não queirais vestido novo

que vos dê um mau trajar

 

Olhai por nós

 

E pelos outros, que hão-de vir

e também vos querem ver

guardai a vossa beleza

que o tempo há-de querer.

 

descontos diversos – pág. 16

 

 

 

Gosto

 

Pego nas palavras como te acaricio

e coloco-as umas após outras

como te beijo

 

Depois, percorro-as, entro nelas

como se estivesse

a fazer amor contigo,

 

Sabes,

eu gosto é de ti

e das palavras.

 

descontos diversos – pág. 41

 

 

 

Fragmentos de Sombras

 

Fragmentos de sombras

esvoaçam

murando de desilusão

os risos

e alegrias de partilha.

 

São

raios de cegueira

mostrando

o efémero da vida.

 

Fragmentos de Sombras – pág. 20

 

 

 

Sonhei ser…

 

sonhei ser artista

de circo,

 

andar

de terra em terra

sem sair do lugar –

o centro da pista,

 

vestir roupas garridas,

brilhantes, coloridas,

rodopiar no ar –

ser fogo na vista,

 

ser ilusionista,

e, no despertar das emoções,

afugentar a tristeza, o tédio,

eclipsar as desilusões.

 

 Fragmentos de Sombras – pág. 25

 

  

 

Naquele canto…

 

Naquele canto

pertinho do abrigo,

onde eu brincava contigo,

poisavam andorinhas.

 

Agora,

triste cenário,

restam os ninhos

e uma andorinha morta,

mumificada,

como imagem parada

dum tempo que não volta.

 

 Fragmentos de Sombras – pág. 6

 

 

  

Relógio

 

Caminho

com peso

do tempo

que em mim

se acumula.

 

Sinto

vagares,

ombros

vergados

aos

espaços

precisos,

à lentidão

macerada

deste ponteiro

que, de divisão

em divisão,

repisa

os mesmos lugares

e me enche

o corpo

de vergões

inúteis.

 

 Revista Limiana n.º 6, de Fevereiro de 2008, pág. 13

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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