Notas pessoais sobre os encontros com escritores publicados na FLAMA

 

Notas pessoais sobre os encontros com escritores publicados na FLAMA



Ricardo de Saavedra



A rubrica «como vivem os escritores portugueses» nasceu na revista Flama a 10 de Janeiro de 1964 e manteve-se semanalmente, com regularidade pendular até princípios de Outubro desse ano, altura em que fui mobilizado para o serviço militar no Ultramar. A primeira entrevistada foi a romancista Esther de Lemos, que havia ganho o Prémio Eça de Queiroz, logo seguida de Luís Forjaz Trigueiros, Natércia Freire e Joaquim Paço d’Arcos. Ao longo de nove meses, muitos escritores ligados ao Norte do País passaram pela página 6 da revista, desvendando pequenos segredos dos seus hábitos de escrita e não só, que em certos casos permitiriam ao leitor saborear de diferente forma as obras que deles pudessem ler. Dos autores com pronúncia nortenha recordo Tomaz de Figueiredo, António Manuel Couto Viana, Pedro Homem de Melo, Conde d’Aurora, Amândio César, Maria Manuela Couto Viana, Domingos Monteiro, Júlio Evangelista e Fernando Guedes.

O espaço reservado para cada trabalho, incluindo texto e uma ou duas fotos pequenas, era de uma página, normalmente a página 6, onde cabiam à roda de mil palavras. A revista possuía um formato razoável (24x32 cm), mas mesmo assim éramos muitas vezes obrigados a sacrificar parte do material recolhido. No início, tudo bem. Mas à quinta entrevista, com Matilde Rosa Araújo, a censura decidiu meter o bedelho e cortou-nos quase metade da prosa. O editor ainda remendou como pode, mas saiu uma salgalhada tal que me obrigou a correr para a ourivesaria que a Matilde e a irmã tinham no Rossio, a pedir desculpas e a entregar-lhes uma cópia do texto original. E assim se salvaguardou uma amizade…

Entre as entrevistas que mais cortes da censura sofreram – vá-se lá saber porquê! – contam-se as de Sophia de Mello Breyner Andresen, David Mourão-Ferreira, Domingos Monteiro, Urbano Tavares Rodrigues, José Blanc de Portugal e Bernardo Santareno. Claro que, a partir dos primeiros cortes, enviava 1200 palavras, fornecendo assim ao editor material para refazer a página mais facilmente. Esta decisão provocava a necessidade de ocasionais continuados para as páginas seguintes, coisa que os maquetistas detestavam.

Tive diversos encontros com os escritores sobre quem escrevi e a todos visitei nas suas casas, onde fui cordialmente recebido. A minha amizade, por exemplo, com o Sr. Conde d’Aurora tinha mais de meia dúzia de anos quando, na Páscoa de 1964, o convidei a aparecer na Flama. Já muito antes disso me oferecia os seus livros com gentis dedicatórias. E sempre me tratou com desvelada atenção, enviando-me papelinhos com indicações manuscritas (que eu me via aflito para traduzir), lembrando por exemplo o pormenor dos cinco cigarros que fumava por dia ou as fotos que eu poderia escolher. Cada um destes gestos contribuía para consolidar o respeito e admiração que por ele nutria.

O Conde d’Aurora afirmava que a sua maior glória fora quando Gilberto Freyre o considerou e até escreveu algures que ele era o modelo do provinciano de Portugal. Isto no tempo em que a palavra província era elogiosa. Porque na província existia a força e a flor do Povo, desse Povo que ele tão insistentemente elogia na entrevista que hoje reproduzimos.

Dos escritores sobre quem escrevi na Flama há 53 anos, suponho que apenas a primeira entrevistada, a muito querida professora Esther de Lemos, se mantém viva. O seu cunhado foi o saudoso poeta vianense Fernando de Paços, com quem naqueles tempos passava animados serões familiares. O Fernando dedicou a vida à Editorial Verbo, sempre ao lado de Fernando Guedes, que dos escritores por mim entrevistados terá sido o último a deixar-nos, a 28 de Agosto do ano transacto. Que Deus lhe dê, bem como a todos os outros que antes dele partiram, o descanso eterno!

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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