Hoje encontrei o Zé Micamé (José Manuel Dantas de Melo). Foi no Largo.
Estava sentado num degrau do Chafariz. A lâmina de um canivete inventava um Cristo num pedaço de madeira.
À sua volta, deitados, estavam os seus amigos vadios. Os amigos fiéis, de sempre, que não fazem cálculos nem querem contrapartidas.
Tinha voltado do exílio celeste, a que se remeteu fez agora 40 anos.
De vez em quando, como que distraído, o Micamé levantava os olhos… para ver o Tomé, que comandava as carreiras do Cura? Ou o João da Mena, o Tone Picado, que espelhavam os sapatos dos clientes da Havaneza ou do José Vieira?
Lembrei-me que não só fazia Cristos. Também era um Cristo.
Vem ali o Micamé! Ouvia-se em qualquer Rua do Arrabalde, no Passeio, no Largo.
O diferente, o único, o temido, o maluco.
O corajoso.
As pegas da Vaca das Cordas… únicas!
No Circo, colado à tábua, de pernas e braços afastados, como Vitrúvio, alvo de um exímio lançador de punhais.
O indomável.
No Teatro, numa sessão de hipnotismo, o Micamé foi o único, entre vários, que resistiu aos comandos do hipnotizador, que… desistiu.
O solidário.
No já longínquo 6 de outubro de 1974, não arregaçou as mangas (estavam sempre arregaçadas), mas limpou o Chafariz e a Capela das Pereiras.
O excêntrico.
As noites aceleradas no Parque da Villa Moraes com a Escultura Medieval.
O artista.
Ainda continua no Largo. Onde certamente convive com outro José Manuel… o Afonso, outro artista, dos maiores, com raízes tocantes.
O amigo não morreu.
Ponte de Lima não tem qualquer artéria com o seu nome, distinção habitualmente só concedida aos que já partiram.
A bala da pistola não matou o Zé Micamé.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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