Íngremes são as veredas do desalento, abruptas são as ladeiras da montanha da incerteza, distantes e longas são as cumeadas da inacessível verdade. Há frases-feitas e meias-palavras no discurso incoerente dos traidores, há meios caminhos arrepiados na hora da cobardia e do derrotismo, há muros altos feitos de tédio e marés-baixas que deixam através de si, por entre a indiferente rigidez das rochas ocas, nauseabundos cheiros a carne humana vendida, em noites de má-fé e de sarcasmo, pelos novos vendilhões do templo…
Ah! Mas há sempre uma oculta mensagem poética no discurso-percurso da vida, quando se levanta a coragem das palavras ditas, olhos nos olhos, quando nas paredes da noite santa da hipocrisia o luar da vontade vem abrir profundas brechas.
É do abismo negro dos mares que se fazem a calma dos lagos, a traquinice dos regatos, a música das cascatas, o trabalho das azenhas, a suavidade das praias, a leveza das nuvens, a frescura das fontes.
Na comédia da vida, há dramáticas farsas e risonhos cenários acompanhados por hinos à grandeza e desfaçatez dos medíocres, aplaudidos por bancadas alienadas e histéricas…
Mas há sempre quem, mesmo encravado nas raízes da dor e da dúvida, salte por dentro da vida em busca da luz e do calor do sol. Neste vai-vem entre o Nada e o Tudo, nesta opção sempre retomada entre o Ser e o não Ser, outro recurso não temos que captar da vida o segundo sentido que tem para ela a Morte.
E o verdadeiro sentido desta – o único que à vida pode dar algum sentido – é a coragem da autenticidade e do valor da liberdade do nosso espírito.
Só voando nas asas do espírito encontrará o homem algum sentido para a sua morte, logo para a sua vida.
E não há liberdade sem Deus, nem morte sem Deus, nem vida autêntica à margem de Deus!
Parámos desiludidos a meio da encosta? Que importa?
É sempre possível a hora do recomeço, se soubermos estar no tempo de hoje e no espaço de agora.
Amanhã, foi sempre o dia mais oportuno para os cobardes.
É, agora e aqui, neste tempo e espaço portugueses que temos que saber merecer aquilo mesmo que somos há oito séculos: portugueses.
Abramos as asas para um voo decisivo e colectivo, bem acima dos abismos!
In:
– Jornal Cardeal Saraiva, n.º 3123, de 2 de Agosto de 1985
– LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 25, de Dezembro de 2011
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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