No passado dia 8 de Maio de 2021, da parte da tarde, quando me encontrava a participar num convívio do 36.º Aniversário do Rotary Club de Ponte de Lima, na freguesia de Gemieira, fui surpreendido por um telefonema do Sr. Presidente da Câmara, Eng.º Victor Mendes, a convidar-me a proferir umas palavras sobre a figura e a personalidade do homenageado, a titulo póstumo, Sr. Fernando Calheiros.
Não sei se foi transmissão de pensamentos, mas o certo é que, pouco antes desse telefonema, o Rotary Club de Ponte de Lima tinha-se referido, entre outros companheiros já falecidos, à pessoa do Sr. Fernando Calheiros, Clube onde foi várias vezes Presidente e que ajudou a consolidar.
Apesar de entender que poderia haver outras pessoas mais avalizadas para desempenhar esta nobre missão, aceitei imediatamente o convite formulado pelo Sr. Presidente da Câmara Eng.º Victor Mendes, dada a relação muito próxima que mantive com o homenageado Fernando Calheiros até ao momento em que decidiu deixar o nosso convívio.
Falar da figura do homenageado Fernando Calheiros é falar de um cidadão, homem e político lutador, íntegro, descomprometido, competente e muito combativo, mas sempre muito optimista, a quem Ponte de Lima muito deve, e que agora o Município, com muita justiça, decidiu perpetuar a sua memória, ao atribuir a este lindo espaço público de desporto e lazer o nome de “Parque Fernando Calheiros de Barros”.
E a escolha deste lugar é tanto mais pertinente, justa e acertada, dado que foi no mandato de Presidente da Câmara do Sr. Fernando Calheiros que, com a sua perspicácia, combatividade, e porque não dizê-lo, com a sua teimosia, e após reuniões muito difíceis, a que assisti, se conseguiu reverter este terreno para o património do Município de Ponte de Lima, pois até aí estava na posse de um grupo de promotores para aqui se construir um hotel, e isto, sem custos para a Câmara Municipal.
Neste espaço, de grande valor, dada a sua localização e dimensão, o Município pôde construir o edifício da pré-primária e o parque desportivo e de lazer.
O mandato de Fernando Calheiros como Presidente da Câmara Municipal não foi propriamente fácil.
Em primeiro lugar, teve logo de resolver dois casos muito difíceis:
- Um relativo ao processo dos regadios; e,
- outro, que embora lhe causasse alguns dissabores com a imprensa nacional, teve o apoio generalizado da população de Ponte de Lima, quando encontrou a solução para um problema Social pendente criada por uma parte da população, bem referenciada, então aqui residente em grande número, tudo isto na sequência do assassinato do polícia de boa memória José Pereira.
- Nas Assembleias Municipais, a que tive a honra de pertencer durante o seu mandato, Fernando Calheiros encontrava-se como “peixe na água”, pois tinha sempre os dossiers constantes da ordem do dia muito bem estudados e estruturados, não perdendo um único debate para quem quer que fosse.
- Além disso, Fernando Calheiros deixou obra feita que marcou o seu único mandato de quatro anos, entre 4 de Janeiro de 1990 a 4 de Janeiro de 1994, sendo o mais marcante a Biblioteca Municipal, as Piscinas Municipais e o início da recuperação dos actuais Paços do Concelho.
Foi ainda no seu mandato que Ponte de Lima recebeu em Setembro de 1992 a Presidência Aberta do Dr. Mário Soares, que decorreu com êxito assinalável, e foi tão grande a cumplicidade estabelecida sobre estas duas personalidades (o Fernando Calheiros já tinha, com muita surpresa e polémica, sido mandatário concelhio do Dr. Mário Soares na campanha para a eleição de Presidente da República contra o Dr. Freitas de Amaral), que o então Presidente da República homenageou privadamente o Sr. Fernando Calheiros, no Palácio de Belém, oferecendo-lhe um retrato personalizado que Fernando Calheiros exibia com orgulho na sua casa a todos que o visitavam.
Fernando Calheiros, no exercício do seu cargo de Presidente da Câmara, foi convidado pelo embaixador Dr. Sá Coutinho, o Limiano Conde de Aurora, para visitar o Vaticano, que incluía uma entrevista privada com o Santo Padre João Paulo II, mas fiel ao seu espírito de missão, teve de renunciar a essa oportunidade única, pois estavam a decorrer prazos para enviar para Bruxelas os projectos de candidatura aos Fundos Sociais Europeus.
A intervenção de Fernando Calheiros não se ficou pelo serviço autárquico, pois também foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, durante três mandatos consecutivos, um destes mandatos acumulando a Presidência da Câmara Municipal.
Nestas funções de Provedor o Fernando Calheiros resolveu, com êxito, um assunto pendente dos “Cursos Profissionais” do Fundo Social Europeu, sem culpabilizar ou acusar quem quer que fosse, reestruturou os Serviços Agrícolas e deu execução ao Lar de Idosos Cónego Correia.
Também exerceu um mandato na Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, entre 1997/2000, mas não se sentiu muito entusiasmado para dar continuidade a esta missão, embora tenha normalizado a Instituição no aspecto económico e financeiro.
Após a sua retirada da vida pública Fernando Calheiros dedicou-se à investigação sobre assuntos históricos do concelho de Ponte de Lima, produzindo alguns livros a expensas próprias.
A ele se deve a célebre frase sobre a polémica da fundação de Ponte de Lima, ao defender, com muita originalidade, que “Ponte de Lima é mais antiga que Portugal”
O Município de Ponte de Lima, reconhecendo a intervenção pública do Sr. Fernando Calheiros em prol da comunidade Limiana, na reunião ordinária de 20 de Dezembro de 2004, deliberou atribuir-lhe a “Medalha de Mérito Municipal”.
Para terminar, não poderia deixar de referir que, pouco antes do seu falecimento, concretamente em 26 de Setembro de 2019, uma delegação da Santa Casa da Misericórdia, que tive a felicidade de acompanhar por convite do Sr. Provedor Dr. Alípio Matos, foi visitar o Fernando Calheiros à sua residência em Rebordões-Souto, tendo encontrado um homem tratado com muito carinho pela sua esposa Maria Augusta.
Apesar de já se encontrar fisicamente um pouco debilitado, demonstrou uma força anímica excepcional, conhecedor dos problemas que afectavam a comunidade Limiana, com um optimismo inabalável de quem estava ainda disponível para executar novos projectos de vida e servir a sua terra no que fosse preciso.
Fernando Calheiros foi uma pessoa com quem tive a honra de lidar de perto, que às vezes não era fácil, dado que era um homem determinado, muito combativo, mas que com o jeito que lhe apanhei, tornou-se muito simples o diálogo, e orgulho-me de ele me ter considerado entre o grupo dos seus grandes amigos.
Fernando Calheiros faleceu em 23 de Dezembro de 2019, com 82 anos, e foi sepultado no dia 25 de Dezembro de 2019, no cemitério de Rebordões-Souto, e o Município de Ponte de Lima em “Nota de Imprensa Municipal de 24 de Dezembro de 2019” decretou dois dias de luto em 24 e 25 de Dezembro em honra do Homem, Cidadão e Político.
Hoje o Município de Ponte de Lima homenageia postumamente Fernando Calheiros perpetuando a sua memória, atribuindo, com muito mérito, o seu nome a este esplêndido local – o “Parque Fernando Calheiros de Barros”.
Se fosse em vida, conhecendo-o como conheci, não sei se Fernando Calheiros aceitaria, sem pelo menos oferecer grandes resistências, esta honrosa distinção, pois era pouco dado a distinções públicas, mas agora, no lugar onde se encontra, com certeza que estará orgulhoso com este reconhecimento, para memória futura, conferida pelo Município de Ponte de Lima, aceitando-a de bom grado por ver que valeu a pena a sua dedicação à causa pública em prol de todos os limianos.
Até sempre Fernando Calheiros.
Ponte de Lima, 21 de Maio de 2021
