O Professor e Ensaísta José Cândido de Oliveira Martins, por Cláudio Lima

 

O Professor e Ensaísta José Cândido de Oliveira Martins, por Cláudio Lima



Cláudio Lima



Ponte de Lima, se é terra de poetas e trovadores, com créditos firmados e estatuto consolidado ao longo da sua longa História, com as auras do rio e os verdes matizados da paisagem a seduzirem revoadas de musas, - tem sido também, facto nem sempre devidamente valorizado e divulgado, um fértil alfobre de intelectuais nas várias áreas do saber, erradiando dos mais diversos e referenciados centros de investigação e ensino. Reitores, Catedráticos, Professores-doutores, desde Frei Cipriano Mendonça (1598 - 1679) (1), frade beneditino que foi lente de Teologia na Universidade de Coimbra, passando por figuras cimeiras como o Cardeal Saraiva (1766 - 1845) igualmente frade beneditino e, entre muitos cargos e títulos de relevo, tanto seculares como eclesiásticos, também ele Reitor e Professor na Lusa Atenas, terminando no nosso contemporâneo Amadeu Araújo Pimenta (1943 / 2010), Médico e insigne Catedrático da Faculdade de Medicina do Porto, - e para só referir personalidades falecidas - registamos uma vasta plêiade que, a par de poetas, políticos, clérigos, militares, juristas, músicos, desportistas, artesãos e autodidatas, tem contribuído para tornar a nossa terra num extraordinário e multímodo espaço da cultura e das artes portuguesas.

É sobre um ilustre Professor Universitário dos nossos dias, nascido na freguesia  da Ribeira a 10 de Fevereiro de 1965, que aqui pretendo lançar umas breves e certamente desconchavadas notas. Refiro-me a José Cândido de Oliveira Martins, Professor-Doutor especializado em Literatura Portuguesa e Teoria da Literatura, leccionando na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa / Braga. Trata-se, inquestionavelmente, de uma autoridade naquelas e afins disciplinas curriculares dos cursos de filosofia e humanidades, aferida pelo apreço com que seus pares e discentes o consideram, bem assim pela repercussão que a sua competência vem logrando além-fronteiras, frequentemente solicitado por diversas e prestigiadas universidades estrangeiras para participar em colóquios e seminários, proferir lições e conferências, integrar comissões de júri na avaliação de candidatos aos mais altos graus da hierarquia académica.

A sua obra publicada, já vasta, reflete todos os predicados de um competente e escrupuloso professor e investigador, constando o seu nome do elenco de colaboradores das mais conceituadas e criteriosas  revistas e outras obras coletivas da especialidade, de que é recente exemplo a participação no Dicionário de Luís de Camões, (Ed. Caminho, Lisboa, 2011) dirigido pelo grande camoniano Vítor Aguiar e Silva.(2) Alguns desses trabalhos ensaísticos foram posteriormente editados em separata, tal o interesse que suscitaram. Mas poderíamos falar também nos muitos prefácios, notas elucidativas e fixação de textos com que tem enriquecido edições de obras de autores clássicos, como Sá de Miranda, Padre António Vieira, Bocage e Camilo. Elencarei seguidamente as suas obras saídas em livro, caraterizadas por um propósito tendencialmente propedêutico e hermenêutico, de inestimável valor de apoio aos estudiosos.

 

  • Teoria da Paródia Surrealista - Ed. da APPACDM / Braga, Id.,1995
  • Para uma Leitura de Maria Moisés de Camilo Castelo Branco — Ed. Presença, Lisboa, 1997
  • Naufrágio de Sepúlveda - Ed. Replicação, Lisboa, 1997
  • Para uma Leitura da Poesia de Bocage - Ed. Presença, Lisboa, 1999
  • Para uma Leitura da Poesia Neoclássica e Pré-Romântica - Id., 2000
  • Fidelino de Figueiredo e a crítica da teoria literária positivista - Ed. Inst. Piaget, Lisboa, 2007.

 

A primeira das obras acima referidas, que Vítor Aguiar e Silva considerou “o mais acurado estudo existente, em língua portuguesa, sobre a paródia. (…), um contributo valioso para um mais exacto e aprofundado conhecimento do Surrealismo em Portugal e dos seus autores maiores e menores.” (do Prefácio), constitui, com alterações de pormenor, a sua dissertação nas provas de acesso ao mestrado; a última, igualmente saudada e aplaudida pelo mesmo emérito professor e outros de idêntica alta craveira nos domínios literários, reproduz, num exaustivo estudo histórico-teórico-crítico de quase setecentas páginas, a sua tese de doutoramento na especialidade de Teoria Literária.

Também a cultura limiana tem beneficiado, e muito, do saber e da indefetível fidelidade aos valores identitários do limianismo, expressos em várias ocasiões e circunstâncias e de diversas formas, pelo Prof.-Doutor José Cândido Martins. Propositadamente evitei referi-los até aqui, para lhes dedicar uns parágrafos finais. O primeiro trabalho que lhe conheci data de 1996 e consta da Colectânea de Autores Limianos Contemporâneos (Ponte de Lima, 1996) e consiste num “Panegírico dos Abades Beneditinos Limianos”. Posteriormente e com assiduidade notável, surpreendi excelentes trabalhos seus de temática limiana em jornais e revistas de que, citando de memória, me ocorrem o Cardeal Saraiva, o Boletim Municipal, O Anunciador das Feiras Novas, a Límia e aqui a nossa Limiana.

Em trabalhos de maior envergadura, é de justiça referir a organização, introdução crítica, fixação de textos, índices remissivos e resenhas bibliográficos destinados à reedição de obras há tanto tempo esgotadas ou nunca editadas íntegra e dignamente, como por  exemplo:

 

  • António Feijó, Poesias Completas - Ed. Caixotim, Porto, 2004
  • António Feijó, Poesias Dispersas e Inéditas - Id., 2005
  • Teófilo Carneiro, Poesias e Outros Dispersos - Ed. Opera Omnia, Guimarães, 2006.
  • Diogo Bernardes, O Lima - Ed. Caixotim, Porto, 2009

 

Também em 2009, ainda na Ed. Caixotim e integrando a conhecida coleção Viajar com…, da responsabilidade da Direção Regional de Cultura do Norte, publicou Viajar com… António Feijó, obra que alia o esmero gráfico à riqueza documental e, obviamente, à qualidade literária.

 

E assim, aos trancos e barrancos, dou por finda a curta incursão, consciente de que muito ficou por dizer e muito do que fica dito peca pela ausência de fluidez, de rigor e de clareza. Mas que esta súmula de uma obra que de dia para dia vai crescendo em volume e, sobretudo, em excelência, consiga incutir na gente limiana o apreço e o orgulho sadio daqueles de seus filhos que, pelo esforço, pela competência e pela potenciação das aptidões, “se vão da lei da morte libertando”. Como o José Cândido de Oliveira Martins.

 

 

 Notas:

  1. Este religioso é, efetivamente, o nosso primeiro lente a constar das figuras limianas (Ponte de Lima, 2008), obra de inestimável valor, coordenada pelo Eng.º João Gomes d’Abreu e registando um grande e notável número de colaboradores, entre eles JCOM. Segundo o Dr. João de Araújo Pimenta, outro ilustre colaborador, só na segunda metade do séc. XIX Ponte de Lima “deu” a Coimbra seis professores catedráticos.
  2.  Trata-se de uma obra de suma importância, que vem colmatar uma lacuna de há muito sentida pelos camonianos. Levou cinco anos a elaborar, conta com sessenta e oito colaboradores - uma constelação de celebridades potuguesas e estrangeiras - com cerca de duzentas entradas perfazendo um total de mil páginas. O nosso conterrâneo colabora com nada menos do que seis entradas: Amora, António Soares, camonista (pgs 27 a 29); Figueiredo, Fidelino de, camonista (pgs 387 a 390); História Trágico-Marítima (antiepopeia da decadência do império) (pgs 410 a 416); Episódio do Naufrágio de Sepúlveda (pgs 631 a 634); Paródias d’Os Lusíadas (pgs 659 a 667) e Polémica contra José Agostinho de Macedo (pgs 710 a 712).

 Janeiro de 2012

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 26, de Fevereiro de 2012

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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