Foi de imediato que anuí ao convite da direcção da revista Limiana para colaborar na homenagem que a mesma iria prestar ao ilustre pontelimense Ex.mo Senhor Dr. António Carlos Fernandes Lima, personalidade por quem nutro a maior admiração e estima e por quem tenho sido retribuído com grandes provas de amizade.
Conheço o homenageado, de uma maneira progressiva, desde a minha mocidade, bem como a sua família. Foi com seus Pais, pessoas respeitadas e consideradas em Ponte de Lima, que mantive um maior relacionamento, mesmo amistoso, durante alguns anos em que, no início da minha vida profissional, residi, de uma maneira efectiva e continuada, neste concelho. Recordo com saudade as conversas de ocasião que então tivemos em que aproveitei conselhos e tomei conhecimento de experiências vividas, que me terão servido no decurso da minha vida.
Ao prestar este depoimento não me atreverei a falar do Advogado; Bastonário; e Parlamentar por, para tanto, não ter conhecimento nem formação e porque personalidades altamente credenciadas o irão fazer.
Irei levar ao texto assuntos do meu conhecimento ligados à vida quotidiana de uma forma simples, mais ditada pelo sentimento do que pela racionalidade.
Andava ainda no liceu quando o Dr. Carlos Lima, jovem advogado, assentou banca na sua terra natal, já no final da época dos advogados de “Barra” em que foi referência o advogado e ilustre parlamentar Ramada Curto. Altura das célebres questões de águas que, apesar de eminentemente rurais, se revestiam, muitas vezes, de grande complexidade. Desde a partilha entre familiares até às que envolviam levadas; regos; nascentes; poças; e os regimes de tapa tapa, algumas com direitos ancestrais que em alguns casos remontavam às antigas sociedades comunais. Causas que simultaneamente envolviam o direito cível e o criminal e pareceres que fizeram correr muita tinta em penas e canetas de Lentes e Catedráticos.
Poucos anos permaneceu o Dr. Carlos Lima na sua terra natal, para voltar a Lisboa onde tinha estudado e onde altos voos o esperavam. Desse tempo, pouco ou nada sei.
Foi muito mais tarde, já nos primeiros anos da década de setenta, que conheci pessoalmente o D. Carlos Lima pela mão do Reverendo José Augusto Alves, pessoa da sua máxima confiança e então Pároco da Freguesia de Estorãos, onde o homenageado também tem residência, em encontro motivado por um “caso” da Adega Cooperativa de Ponte de Lima e consequente necessidade de criar uma frente para defender, no lugar próprio, princípios e interesses comuns.
Foi nesse curto mas dinâmico e motivado período de preparação, actuação e desfecho favorável da nossa causa que me apercebi pessoalmente do valor e grandeza do Advogado e pessoa que é o Dr. Carlos Lima.
Nessa altura, entre mim e o homenageado havia um distanciamento não só pela diferença de idade, que aliás não é grande, mas principalmente por se tratar de um advogado com prestígio firmado e no auge da carreira, e eu um técnico doutra área pouco mais que iniciado na actividade. Mas foi a partir daí que começou o nosso convívio, sempre que nos encontrávamos na Adega Cooperativa nas reuniões ou na época da vindima, versando assuntos de interesse dessa sociedade ou com ela relacionados. Foi crescendo esse convívio à medida que dos assuntos da cooperativa se passou para os individuais ligados ao sector agrícola, designadamente a viticultura em que havia interesses comuns.
Anos passados, e dada a posição que a adega começou a ter no mercado nacional dos vinhos brancos verdes, a boa rentabilidade para os produtores gerou um crescente interesse pela reconversão da vinha, que não passou despercebido ao Dr. Carlos Lima. Daí, depois de aturado estudo e ponderação, ter decidido aproveitar as óptimas condições que a sua propriedade oferece para fazer a reconversão da vinha nos moldes aconselhados pelos especialistas do sector. Trata-se de uma enorme quinta localizada na vertente sul do sopé da Serra d’Arga, constituída por uma grande mata e uma zona de cultivo onde a vinha predomina. Quase no limite dos dois aproveitamentos localiza-se a casa de habitação, Solar centenário de granito, de bonita traça, rodeada por jardim, horta e o típico terreiro resguardado por altos muros e, ao nível do primeiro andar, uma linda varanda lajeada voltada a sul, todo o dia banhada pelo sol.
É neste espaço liberto da poluição e bulício da cidade que o Dr. Carlos Lima se sente bem.
O nosso relacionamento foi crescendo lentamente até que novo “caso” se deu na Adega Cooperativa, agora com contornos mais preocupantes, mas um grupo de sócios organizou-se para reconstituir a direcção. Embora preocupado, o Dr. Carlos Lima não tomou parte, mas procurou manter-se atento ao desenrolar da situação.
Como passado uns anos mudaram e alteraram direcções sem grandes resultados, e face ao descontentamento dos sócios, um grupo liderado pelo Dr. Carlos Lima procurou com bastante antecedência informar-se e posteriormente escolher e convidar associados que tivessem perfil para desempenhar os lugares de uma nova direcção. A tarefa não foi fácil e, como é natural, causou alguns dissabores, mas valeu a pena porque a situação foi controlada e os resultados estão à vista.
Foi durante esse período que mantive um relacionamento mais próximo e prolongado com o homenageado e que, numa das vezes que estive em sua casa, tive o prazer de conhecer a Mulher da sua Vida, pessoa que em boa hora e ao seu tempo foi buscar ao Berço da Nacionalidade, ao seio de uma importante e respeitada família de Guimarães, que eu também já conhecia por ser das relações de meus Pais.
Não faria sentido deixar de aqui referir a pessoa que durante muitas décadas esteve ao lado do grande Homem que é o homenageado, e pelo tempo que a conheci não foi difícil verificar que se tratava de uma pessoa afável, sensível e de fino trato e grande simpatia. Era poetisa e teve a gentileza de me oferecer um livro de versos que os seus netos lhe fizeram a surpresa de publicar.
Tenho conhecimento que ambos se regiam por princípios morais muito definidos, baseados na doutrina social da Igreja, o que revela tratar-se de dois pilares do edifício familiar que até se revela já na segunda geração através do bonito gesto dos seus netos.
São estas pequenas e grandes coisas que definem a postura e carácter das pessoas.
Não quero terminar sem me congratular e sentir orgulho por ser considerado pelo Dr. Carlos Lima seu amigo.
In: LIMIANA - Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 32, de Abril de 2013
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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