Ovídio - um pintor sempre presente na nossa Casa, por Maria Emília Norton de Matos d’Albuquerque Calheiros

 

Ovídio - um pintor sempre presente na nossa Casa, por Maria Emília Norton de Matos d’Albuquerque Calheiros



Maria Emília Norton de Matos d’Albuquerque Calheiros



A história de vida do Ovídio Carneiro está muito ligada à história da nossa família, uma vez que foi o meu tio, o General Norton de Matos, quem o ajudou a ingressar no estudo das Belas Artes. Por essa razão, laços de amizade transparecem nas obras que nos deixou.

Nas minhas memórias de infância, tenho imagens do Ovídio fazendo visitas de «pessoa da casa» à minha tia Mimi, entrando pelo portão da cozinha, brincando comigo! Nesses tempos, o portão estava sempre aberto durante o dia e os amigos eram sempre bem-vindos. Essa é uma tradição que procuramos manter ainda hoje, para que também os meus netos, os mais novos da casa, ganhem raízes duradouras, memórias inesquecíveis.

As pinturas do Ovídio foram sendo “integradas” pela casa, como coisas “da casa” e por isso, não são apenas pinturas do Ovídio, são obras especiais, dum amigo que tão bem conhecemos e que conviveu com as quatro gerações que por aqui foram passando.

Para além do retrato de 1954 do tio José (General Norton de Matos) pintado na sala de jantar que se mantém ainda hoje como era, e que se encontra onde sempre esteve, no escritório da casa, possuímos um conjunto de obras do artista.

Num dos quartos encontram-se as «Dálias» do Ovídio. Não sei de que época são, mas sempre se lhes deu este nome; no hall continua a «Lavradeira», obra datada de 1964. Estas duas pinturas sempre estiveram na casa de Ponte de Lima e aqui se encontram hoje.

Os «Cavalos», também de 1964, sempre estiveram na casa dos meus pais no Porto. Não sei se foram um presente do Ovídio para a minha mãe, ou se terá sido a tia Mimi que os ofereceu aos meus pais. Além desta pintura, na casa do Porto havia uma gravura do Ovídio que se intitulava «Naufrágio».

Datada de 1958 (?), a «Casa de Ponte de Lima», deve ter estado originalmente cá, mas a minha mãe levou-a para a casa do Porto e, desde então, tem permanecido em minha casa, nessa cidade.

Em 1971, a minha madrinha, a tia Mimi (Emília da Conceição Norton de Matos), ofereceu-me de presente o meu retrato. Lembro-me muito bem de estar sentada no terraço enquanto o Ovídio me pintava… boas memórias desses dias! Este retrato esteve sempre no meu quarto, em casa dos meus pais no Porto e, quando me casei, viajou comigo para a nova casa. Veio agora para ser fotografado e, de alguma forma, continua por cá, porque talvez se sinta pertença desta casa…

Há ainda as peças de faiança com as armas da família Norton: um prato com dedicatória à tia Mimi, presente de aniversário, como pode ler-se na dedicatória e outro igual, com data de 1963. Este terá sido, possivelmente, presente de casamento do Ovídio para os meus pais, ou uma oferta da tia Mimi para o enxoval da minha mãe, dado que data do ano em que casaram.

Ainda datados de 1963, existem dois pratos pequeninos com a mesma decoração, um que sempre esteve aqui em casa e outro na casa do Porto.

Este não é o artigo que me foi pedido, mas um retrato em palavras das nossas memórias do Ovídio. Eu e o meu irmão – José Maria Norton de Matos d’Albuquerque Calheiros – mantemos as suas obras, não apenas como “obras de arte”, mas, acima de tudo, como sinais de laços invisíveis de amizade.

Ponte de Lima, 12 de Maio de 2021

 

Fotografias das obras de arte: Amândio de Sousa Vieira

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Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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