O tributo prestado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo [n.º 38, de Junho de 2014] a Ovídio da Fonte Carneiro ficaria incompleto sem o testemunho do Mestre Gil Teixeira Lopes – Artista de Eleição e personalidade marcante das Artes Plásticas portuguesas, com uma notável carreira nacional e internacional –, colega de Ovídio na Casa Pia de Lisboa, de 1953 a 1955, e, mais tarde, seu Professor na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.
Pelos laços de amizade que o ligam a Ovídio Carneiro, aceitou receber-nos a título excepcional no seu atelier, “espaço sagrado” onde poucos têm o privilégio de entrar. Prevendo-se curta, a conversa foi marcada para o meio-dia. Com música sinfónica de fundo, que acompanha Gil Teixeira Lopes em todos os momentos de criação artística, recebeu-me com simpatia contida, na companhia da Pintora Matilde Marçal, sua colega de atelier desde há longos anos, igualmente reconhecida no meio das Artes Plásticas, tanto a nível nacional como internacional.
Sem direito a gravação, a conversa começou por uma fascinante viagem pelo caminho percorrido por Gil Teixeira Lopes desde os anos de aluno da Casa Pia de Lisboa, que considera terem sido os melhores oito anos da sua vida, evocando o incentivo dado pelo então Provedor, Dr. Pedro de Campos Tavares, ao ensino artístico e recordando com saudade a união, a disciplina rigorosa e o espírito de entreajuda que havia entre os casapianos. Corria, então, a década de cinquenta, em que floresceu a conhecida “Geração de Ouro” da Casa Pia, de que fizeram parte Ovídio Carneiro e outros alunos como Vítor Lopes Nunes, João Carvalho, José Luís, Adão Rodrigues e o próprio Gil Teixeira Lopes.
A viagem prosseguiu pelos tempos em que este Grande Mestre frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde assumiu com frontalidade posições críticas dos conceitos instituídos na Academia – o que não o impediu de regressar como docente, um mês depois de ter terminado o Curso de Pintura – e onde chegou a Professor Catedrático apenas com 35 anos de idade, depois do percurso normal da carreira universitária, passando por Segundo Assistente, Primeiro Assistente, Professor Agregado e Professor Efectivo, embora, na verdade, a função que gostaria de ter exercido fosse a de Professor Visitador. Recorda também com orgulho o facto de, em 1975, ter sido eleito o primeiro Presidente do Conselho Directivo da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa eleito, altura em que Ovídio Carneiro frequentava o Curso de Arquitectura, concluído em 1976, depois de ter frequentado o Curso de Pintura, que, como recorda, concluiu com grande brilhantismo.
A propósito das muitas influências que recebeu ao longo da sua vida de Artista, Gil Teixeira Lopes recorda que, quando lhe foi atribuída uma bolsa pela Academia de Belas Artes, foi para Madrid e a primeira coisa que fez foi dirigir-se à sala de Velásquez, no Museu do Prado, onde passou os vinte dias seguintes a observar os quadros deste “fantástico” Mestre da Pintura Europeia.
Da sua notável carreira internacional, preenchida com inúmeras exposições e participações em júris de concursos, de que resultaram as mais diversas distinções, Gil Teixeira Lopes recorda especialmente a Placa de Prata que lhe foi atribuída na “II Bienal de Florença”, em 1970, a Medalha de Ouro da “III Bienal Internacional de Florença”, de 1972, e a homenagem que lhe foi prestada na Noruega em 1981, na qual, com grande tristeza sua, viu vazia a cadeira destinada ao Embaixador de Portugal naquele país.
Recorda Ovídio Carneiro como um colega e discípulo reservado e contido naquilo que dizia, mas, ao mesmo tempo, muito directo, cioso das suas opiniões e de convívio muito cordial com colegas e professores.
Considera ainda que foi um erro Ovídio Carneiro não se ter dedicado mais à pintura, o que o teria tornado numa grande individualidade do mundo da Arte, tanto a nível nacional como internacional, manifestando, no entanto, compreensão pelas suas opções profissionais, face ao grande sofrimento por que passaram muitos artistas numa sociedade que não os acolhia, lembrando, a propósito, que o primeiro espaço privado destinado à divulgação da arte portuguesa – a histórica Galeria 111, fundada por Manuel Brito – só abriu as suas portas em 1964.
Convidado a escolher, para efeitos de publicação na Limiana, alguns dos 18 desenhos de figura e ornato executados por Ovídio Carneiro na Aula de Desenho da Casa Pia, Gil Teixeira Lopes considerou que todos têm grande qualidade, seleccionando aqueles que considera serem “os mais coerentes pela sensibilidade dos objectos e percurso das saliências”, que aqui divulgamos com muita honra.
A conversa ia já com mais de quatro horas seguidas quando Matilde Marçal, preocupada com a saúde do Mestre, submetido em 1999 a um transplante cardíaco, depois de várias intervenções cirúrgicas, o alertou de que estava na hora de tomar os medicamentos.
Gil Teixeira Lopes fez ainda questão de enviar a Ovídio Carneiro “um grande abraço, muito apertado, como Colega Artista e como Casapiano”.
O aperto de mão com que me cumprimentou à chegada deu lugar a um caloroso abraço, no momento da despedida.
Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 38, de Junho de 2014
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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