Hoje considero que não sou, nem fui, um dos convivas de Ovídio Carneiro. Porém, há destinos que estão traçados na vida de cada um, que fazem com que, mesmo longe, algumas pessoas estejam sempre por perto. Essas pessoas são gente de valor, gente que passa por nós e deixa as suas marcas. Essas são aquelas que na sociedade afirmam a sua individualidade, seja pela escrita, seja pela arte, seja pelo conhecimento, seja pela sabedoria.

Ovídio Carneiro teve comigo um encontro esporádico mas que foi breve porque seria fácil chegarmos a acordo, face ao que se nos apresentava. Eu estava na altura, em 2006, a exercer a presidência da Comissão de Festas das Feiras Novas, cargo inerente ao facto de ser o Vereador da Cultura do Município de Ponte Lima. Tínhamos um projeto interessante que visava tornar as Festas de Ponte de Lima uma festa nacional, no sentido da atratividade, da organização e da fidelidade aos princípios que levaram à sua criação.

A Festa começa pela elaboração do cartaz, que, embora muita gente não imagine, praticamente corre mundo. E um bom cartaz é a carta de recomendação eficaz para termos uma grande festa. Para um bom cartaz, um autor de irrefutável valia. Se a essa valia juntarmos as origens limianas, é a cereja no topo do bolo.

Foi tudo isto que nos levou a convidar o Ovídio Carneiro para nos apresentar o seu trabalho para um cartaz das Feiras Novas, Festas do concelho de Ponte de Lima. Da conversa curta, surgiu a satisfação do autor que se julgava esquecido por Ponte de Lima. Não estava nem estará, nem será esquecido, por ser um cidadão de quem Ponte de Lima se orgulha e por ser um dos seus expoentes culturais mais relevantes. Como se esperava deste encontro e do seu desenlace surgiu um cartaz que deu muita força à festa e que produziu a vaidade que os limianos sempre têm quando o nome da terra é admirado por todos, neste caso pela mensagem produzida pela veia artística dum seu filho, tão querido de todos.

O meu convite ao Ovídio não surgiu por mero acaso. Nunca estando com ele pessoalmente, não deixou de se atravessar no meu caminho, nas conversas que por vezes me presenteava o saudoso Padre Manuel Dias. Os elogios ao Ovídio eram enternecedores, sabendo nós que o Padre Dias não era homem de elogio fácil, antes mensageiro de altos valores da cultura e do saber.

Em casa também não me conseguia “libertar” do Ovídio, sem que ele sequer imaginasse que eu o passei a conhecer melhor através do meu pai, Augusto Castro Sousa. Por ele eram enaltecidas as grandes figuras de Ponte de Lima. Grande amigo de Norton de Matos, admirava ainda mais o general por ter contribuído com o seu apoio para a formação do Ovídio. Após essa formação e a ascensão do Ovídio na arte da pintura, levava a que nos citasse como exemplo de subir a vida a pulso, com inteligência e com sabedoria. Ovídio Carneiro, um dos maiores vultos da cultura Limiana, escreve com o pincel algumas das páginas douradas da história desta vila.

OBRIGADO OVÍDIO, pelo que és e por engrandeceres o nome da tua terra natal.

12/3/2021