Ovídio Carneiro – jovem pintor limiano, por Ricardo de Saavedra (artigo publicado em 1963)

 

Ovídio Carneiro – jovem pintor limiano, por Ricardo de Saavedra (artigo publicado em 1963)



Ricardo de Saavedra
Jornalista e Escritor



 

Artigo de Ricardo de Saavedra publicado no suplemento “Bazar” do Jornal “A VOZ”, de 16 de Fevereiro de 1963, reproduzido no Jornal “Cardeal Saraiva”, de 8 de Março de 1963, e na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 38, de Junho de 2014

 

Conhecemos Ovídio Carneiro de há muitos anos. Desde os tempos em que ele, casapiano ainda, estudava e pintava, nas poéticas veigas limianas, rostos e paisagens desse Alto Minho querido, que ambos deixámos por imperativos da vida. O Ovídio era, como é hoje, um rapaz modesto, concentrado, vivendo exclusivamente para a sua arte, sem outras aspirações que não fossem as de se transformar num pintor digno.

Há dias, casualmente, encontrámo-nos em Lisboa. Mais tarde visitámos o seu estúdio. E, ao tocarmos, ao olharmos respeitosamente as suas últimas telas, a conclusão surdiu-nos «per se»: - Ovídio Carneiro, nestes poucos anos, transformou-se num pintor autêntico. Os seus desenhos ganharam um traço vigoroso, impresso a nervos e firmeza. As suas pinturas conquistaram um matiz próprio, onde as paisagens reflectem um sol ou uma lua irradiante, onde os retratos transcendem a fotografia linear para adquirir um “quid” espiritual e subjectivo.

Ovídio da Fonte Carneiro tem vinte e quatro anos. É finalista do Curso Geral de Pintura da Escola Superior de Belas-Artes. Participou já em diversas exposições, quer na Escola que frequenta, quer na S. N. B. A., nos Salões Nacionais de Educação e Estética da M. P., na exposição da XXIV Missão Estética de Férias realizada em Beja e dirigida pelo Prof. Armando Lucena (onde apresentou o maior número de trabalhos representativos do catálogo). Foi também por diversas vezes galardoado com primeiros prémios nos Salões de Estética da M. P., nos Jogos Florais Universitários de Lisboa, etc.

Ex-casapiano, acaba de entrar na esteira e começa de não desmerecer dessoutros mestres, que também o foram: escultor Martins Correia, escultor Hélder Baptista, pintor Teixeira Lopes, etc. Dotado de extrema facilidade no desenho, disciplina em que sempre conseguiu as melhores classificações, Ovídio atingiu agora uma fase que diremos de transposição, procurando motivos de expressão nas directrizes inspiradoras do mundo da cor. Esta sua característica ressalta-nos sobretudo na realização da paisagem. Os seus quadros do Minho têm os verdes, o sol, a alma e o folclore da província mais risonha do País. As telas do Alentejo, em contraposição, quebram no ritmo, estagnam, imprimem-nos calor nos nervos, solidão na alma. Ovídio ultrapassa a paisagem natural, atingindo a paisagem anímica ou humana. Senhor, como dissemos, de desenho vigoroso, atinge momentos altos de perfeição no retrato. O seu figurativo predilecto oscila entre o estilizado de Rubens e o vigoroso de Rembrandt, se bem que guardando sempre cunho pessoalíssimo. Os seus nus, por exemplo, atraem os mais distraídos. Não tanto pelo aspecto sensual, mas pelo colorido exacto, pelas linhas concretas, pela vida interior das formas. A imagem ressalta nos fundos escuros, amorfos. Porque a Ovídio Carneiro interessa-lhe, sobretudo, delinear as formas, a expressividade dos gestos, que consegue com aparente facilidade e maneirismo novo.

Certamente que não vamos apelidar o jovem pintor limiano de Mestre. É novo ainda, estuda e estuda-se afincadamente. Não perde um momento durante o qual possa aperfeiçoar-se, descobrir novos tons, novos ritmos pictóricos.

Aí reside todo o seu valor. Aí nos fincamos para apresentar, sem rebuço, o nome de Ovídio Carneiro aos críticos nacionais.

As últimas actividades de Ovídio dizem respeito especialmente à gravura e à cerâmica decorativa. Em cerâmica, caracteriza-se sobretudo por intensa procura de matérias novas, cores, «nuances», trabalho de laboratório e experiências, do qual consegue, por vezes, resultados surpreendentes.

Na xilogravura, no linóleo e na água-forte, Ovídio Carneiro trabalha em moldes de hoje e para hoje. Seguindo a moderna linguagem da gravura: o traço das goivas acompanha a expressão ou o movimento da matéria-prima, adaptando-a à obra em potência, tanto na xilogravura como no linóleo. Na água-forte, o buril faz o mesmo jogo, penetrando na cera pela mesma regra inovadora.

Ovídio Carneiro pensa, e muito justamente, em realizar uma exposição individual. Dificuldades inúmeras – e a falta de local é a maior – se contrapõem a esta aspiração. Que o nosso rápido apontamento constitua um incentivo, um grito de «avante» na batalha começada. A liça das Artes é a mais difícil e ingrata. Só entra e hasteia bandeiras quem possuir reais qualidades. Ovídio entrou por méritos próprios. Importa que os outros o reconheçam e ele continue a inspirar a mesma confiança que, de sempre, nos mereceu.

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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