Ter o Padre Manuel Dias como amigo é um privilégio enriquecedor.

Há cerca de 30 anos, ainda a minha vida profissional tinha mais a ver com almofarizes do que com objectivas, o Padre Manuel Dias solicitou-me umas fotografias da romaria do Senhor do Socorro; meti os pés ao caminho e lá fui, à Labruja, freguesia estimada pelo nosso amigo, para trazer algumas imagens que serviram para ilustrar uma das muitas exposições que dedicou a assuntos locais. A partir daí foi crescendo, ainda mais, a admiração e estima por tão notável limiano. Acompanhei, de perto, tudo o que fazia em proveito do enriquecimento desta região.

Aprendi com ele a amar Ponte de Lima. A exposição que organizou em 1965, tinha eu 15 anos, deslumbrou-me. O tema era esta vila e confesso que fiquei fascinado; deu-me a conhecer a grandeza de tantos homens que fizeram ilustre esta terra, ensinou-me a entender que é na humildade que está a sabedoria.

Das conversas que tivemos, nos últimos anos, guardo a inteligente forma de abordar os mais diversos assuntos. Sem nunca descurar a sua religiosidade, mostra possuir opinião bem formada e crítica, por vezes carregada de simpática ironia, sobre a actualidade ou o passado que sabe, melhor do que ninguém, explicar.

Conta-me muitas histórias, como, por exemplo, esta, demonstrativa da saudável irreverência que nunca perdeu: quando, ainda jovem, lhe foi solicitada opinião sobre a eventualidade de se erguer uma estátua a uma personalidade local, logo aconselhou o Cardeal Saraiva. Não tendo sido bem aceite a sua opinião, sugeriu, então, que a fizessem à mãe do Cardeal, pois uma mulher que teve um filho assim bem merecia um monumento.

Uma das suas realizações, em proveito da terra que sempre defendeu, é, sem dúvida, a criação do guião do Cortejo Histórico que tanto enriqueceu as Feiras Novas. É uma encantadora forma de contar a história tão rica de Ponte de Lima, a merecer os mais rasgados elogios, como as palavras escritas em 1971 pelo saudoso Cónego Correia, que confirmavam e faziam já prever uma vida dedicada à elevação cultural da sua terra natal.

Devo-lhe a apresentação e excelentes prefácios em alguns dos livros de fotografia que publiquei e que em muito contribuíram para um melhor entendimento da intenção desses trabalhos.

Muito mais teria para escrever. Todas as vezes que conversamos trago mais algum conhecimento que servirá, apenas e sempre, para fazer justiça à partilha generosa de tanta sabedoria.

Deixo aqui, em jeito de homenagem, as palavras do Cónego Correia, precioso testemunho que, agora, já posso entregar ao Arquivo Municipal de Ponte de Lima para a história das Feiras Novas. São palavras que não perderam actualidade, apesar dos 41 anos passados.

Meu caro Pe. Dias

 A seres tu o autor e organizador do Cortejo Histórico, mereces um grande abraço de parabéns, e o reconhecimento de toda a gente, pelo brilho que o cortejo veio dar às festas concelhias. Nunca te canses de pugnar pelas coisas que contribuem para o bem da nossa querida terra: Ponte de Lima.

Um abraço muito grande do teu muito amigo

20-Set./971

M. Barbosa Correia

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 30, de Dezembro de 2012