Amândio Sousa Dantas

 
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Amândio Sousa Dantas




Cláudio Lima



Amândio Sousa Dantas, um dos autores mais relevantes da poesia limiana contemporânea, nasceu em Ponte de Lima em 1949. Em 1973 emigrou para a Alemanha onde trabalhou na fábrica de automóveis Volkswagen, em Osnabruck. Dessa experiência – e da sua índole saudosista muito próxima da de Feijó – resultaram os seus primeiros livros: “Sentimento da Ausência” (em português-alemão, 1981), “Poemas da Imigração” (1985), “Na Cidade Estrangeira” (1987) e “Emigrar na Primavera” (1991). Este ciclo, revelando já a têmpera de poeta autêntico e insubmisso, mereceu o aplauso e o apoio de entidades como o Departamento Cultural da Cidade de Osnabruck e da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas (entre outras) e de personalidades como Magret Poggemeir e Luciano Caetano Rosa, Leitor de Português na Univ. de Frankfurt.

Com o seu regresso ao “Pátrio Lima” em 1984, um novo ciclo caracteriza e projecta a sua poesia, agora e progressivamente mais interiorizada e reflexiva, incidindo sobre o mistério que envolve o fenómeno poético e condiciona o ser-poeta no ingente e edipiano desafio de o desvendar. A par desta matriz metafísica, constata-se uma persistente e subtil envolvência dos maviosos encantos do seu Lima. São de superior qualidade as obras bafejadas por essa dupla energia criadora: “Perfeito Chão de Voar” (1984), “Sombra e Ramos Sobre o Peito” (1997), “Infinita é toda a Nascente” (1998) e “No Ombro o Orvalho” (2006). Está representado em muitas e distintas obras colectivas.

Como cronista vem colaborando regularmente em vários órgãos da imprensa regional, sempre com a argúcia, o desassombro e a independência de quem milita por causas e não por coisas; de quem não vacila na defesa de valores e ideias por muito que isso incomode poderes constituídos e interesses instalados. Autodidacta, ambientalista, frontal e clarividente.

Aqui se inserem três poemas, um do seu primeiro livro – “Sentimento da Ausância”, outro do livro “No Ombro o Orvalho”, e um terceiro ainda inédito, escrito no corrente ano de 2007.

 

Na Cidade…

 

saio à rua

num dia intacto

de sol

 

é Outono

nos velhos

e nas árvores

 

a cidade é

um barco

no coração do poeta

 

somente um contra

o poeta é estrangeiro

mas a ternura

não tem pátria

 

“Sentimento da Ausência”

 

 

 

No Fogo do Poema

 

Não se morre no fogo do poema;

abre-se uma clareira –

segue o fogo sua sede.

 

A vida inteira repousa no olhar

e o que arde no poema purifica

(conhecimento da dor e do amor).

 

Cruzam-se chama e água

num só olhar; quebram-se as estações;

nenhum estrondo; só uma clareira.

 

Convivem os mortos pelo nosso silêncio…

 

“No Ombro o Orvalho”

 

 

 

Posso Levar o Meu Coração

 

Posso levar o meu coração

por todo o silêncio da Terra

escuto o que se perde em cada som

 

Amo de olhos rasos todos os rios –

e os peixes nada sabem da minha dor

mas é por eles que amo o instante

 

nos meus olhos seguem (volteando)

prateados. Com amor os sigo –

o rio sobem e ao mar e regressam – como a nossa vida.

 

Inédito

17 de Janeiro de 2007

 

 

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 4, de Julho/Outubro de 2007

 

 

Bibliografia


Sentimento da Ausência – 1981

Primeiro livro de Amândio Sousa Dantas, em português-alemão, editado pelo autor, com o patrocínio do Departamento Cultural da Cidade de Osnabrück (Alemanha).
Este e os três livros seguintes – Poemas da Imigração (1985), Na cidade Estrangeira (1987) e Emigrar na Primavera (1991) – foram reunidos num só livro, editado em Março de 2010, com o título Poemas da Emigração.


O Instante É a Tua Face no Poema – Setembro de 2001


No Ombro o Orvalho – Setembro de 2006


Poemas da Emigração – Março de 2010

Este livro reúne a poesia dos primeiros quatro livros do autor: Sentimento da Ausência (1981), Poemas da Imigração (1985), Na cidade Estrangeira (1987) e Emigrar na Primavera (1991).
“Ao reunir a poesia dos seus primeiros quatro livros, pensada e sentida no exterior, [Amândio Sousa Dantas] evidencia a sua fidelidade a uma juventude conturbada que talentosamente soube superar pelo risco da escrita, o modo de expressão que brota naturalmente das suas veias. A sua escrita actual, não obstante conservar a mesma elegância, denota maior hermetismo ao mesmo tempo que se abre para temáticas que conquistaram oportunidade."
Daniel Lacerda, no Prefácio deste livro.


Alto Amor em Alto Rio – Novembro de 2010

Este livro, aglutinando dois tópicos que lhe são afetos - o amor e o rio -, veicula um amplo conjunto de poemas de primeira qualidade.
Amândio Sousa Dantas, num discurso poético sustentado e largamente elaborado, consegue atingir momentos de uma beleza extraordinária e de uma riqueza conceitual surpreendente. Por vezes basta um verso para, não só redimir, como guindar um poema aos patamares do sublime.
Cláudio Lima


Poema Sem Fim – Setembro de 2011

Esta é a primeira antologia dos poemas de Amândio Sousa Dantas, com selecção dos livros publicados entre 1994 e 2006:
- Perfeito Chão de Voar (1994);
- Sombras e Ramos Sobre o Peito (1997);
- Infinita é Toda a Nascente (1998);
- Há Uma Eterna Liberdade (2000);
- O Instante é a Tua face do Poema (2001);
- Pousado no Silêncio (2003); e
- No Ombro o Orvalho (2006).


Sentimento do Poema – Novembro de 2012

Em termos formais e de conteúdo, o presente livro de Amândio Sousa Dantas não diverge daquele fluxo contínuo que carateriza e fixa a sua poesia toda, construída de fulgurações e arrebatamentos, síncopes, tropos, apostos, orações intercaladas. Poeta no seu labirinto, em que a própria linguagem nem sempre consegue servir-lhe de chave de evasão, é ali que, em tensão de espera, em busca de sons e essências, vai dando corpo ao desígnio poético a que se sente convocado; é ali que, palavra a palavra, vai removendo a confusão do caos para instaurar a ordem da harmonia e da luminosidade.
Cláudio Lima


O Silêncio das Nuvens – Agosto de 2019

Amândio Sousa Dantas sente “O Silêncio das Nuvens” e desafia-nos a querer conhecer o mundo, o homem, o esquecimento, a solidão e o deslumbramento pelo “verde da terra”, pelos “impérios desaparecidos” e pelo “deserto que nunca viu o mar”.
As suas palavras, apesar da inquietude que deixam transparecer, questionam sentimentos e atitudes, fazem repensar, mas deixam quase sempre um apelo de esperança, de amor e alegria.
Fernando Pereira, no Prefácio do livro.


Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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