Pequeno resumo autobiográfico de João Hilário Lima

 

Pequeno resumo autobiográfico de João Hilário Lima

 

João Hilário nasceu numa família modesta de oito filhos, da freguesia da Facha, no lugar de Gondim, do concelho de Ponte de Lima, residente numa pequena quinta que pertencia à família do Conde da Carreira, de Vitorino das Donas, onde seus pais foram caseiros desde o seu casamento.

No ano de 1955, tendo já 6 filhos, a família acolheu também a avó materna, facto que tornou a casa pequena e sem condições para nela residirem 9 pessoas. Nessa época era frequente, por razões de crescimento familiar, os caseiros rodarem de umas quintas para outras, sempre à procura de melhores condições de habitabilidade, o que acontecia geralmente pelo S. Miguel, depois das colheitas e da prestação de contas ao senhorio. Os preparativos faziam-se com a ajuda dos amigos em carros de bois e pela madrugada, ficando a tarde livre para os carregar. Todos os “trastes” eram levados, desde as pias do azeite, a salgadeira, os pipos do vinho, os balseiros e tudo quanto fazia parte de uma casa agrícola. O recheio da casa constituía sempre a última carga. Esta primeira mudança foi no ano de 1955 e levou os Lima para uma quinta pertencente à família dos Malheiros, na Correlhã. Aí permanecemos três anos, durante os quais frequentou a escola primária, até concluir a 3.ª classe, e nasceram os seus dois irmãos mais novos.

Sendo natural da Facha, o pai teve conhecimento de que a Quinta do Paço, pertencente ao Dr. Eurípedes de Brito, iria precisar de um novo caseiro. Arrendou-a de imediato por 40 carros de pão (um carro era equivalente a 40 rasas de milho), sendo o vinho e o azeite de terço (2 partes para o patrão, 1 para o caseiro). Quanto à fruta, o novo caseiro ficava com a do chão, cabendo-lhe também todo o trabalho e a mão-de-obra inerente.

Essa segunda mudança, ocorrida em 1958, deu origem a um período de 5 anos de intenso labor familiar, pois era uma área muito grande. O trabalho decorria desde o nascer do sol até ao sol posto e as lavradas começavam sempre por volta das seis horas da manhã. Com 10 anos, João Hilário também ia para o campo e às oito horas e meia comia um pequeno almoço ligeiro, percorrendo depois os 15 minutos do caminho da escola, cujas aulas da 4.ª classe começavam às nove. As suas horas livres eram ocupadas com diversos trabalhos agrícolas, como regar o milho no verão, de manhã e à tarde. Nas feiras quinzenais de Ponte tinham sempre alguma coisa para vender, sendo esta a única maneira de entrar algum dinheiro para fazer face às despesas com a família. Vendiam de tudo um pouco: animais, cereais, verduras e o que se cultivasse em cada época.

Um dia, quando tinha os seus 11 anos, com os pais e acompanhado do irmão de 6 anos, fizeram o caminho da feira, que demorava duas horas para cada lado, indo ele à frente dos bois. Das trocas feitas resultou que no regresso o carro de bois carregava um valente porco, para acabar de engordar e ser consumido meses depois. O porco, talvez já cansado da viagem, saltou para a frente por entre as caniças (resguardo feito com tábuas à volta do carro) e caiu a grunhir no meio dos bois, que se assustaram e fugiram, passando por cima dele, que por sorte não foi colhido pelas pesadas rodas.

Aos domingos, João Hilário gostava de jogar à bola com os seus amigos no recreio da escola, mas muitas vezes a mãe ia buscá-lo para apascentar o gado. Trabalhou sempre muito desde pequenino, porque a família era grande e todos tinham de colaborar, num labor marcado pela força braçal do tempo em que ainda não existiam máquinas agrícolas na lavoura nacional.

No verão de 1962, o chefe da família viu-se privado de quatro braços para trabalhar, pois o filho mais velho, com 25 anos, casou e o segundo, com dezoito, resolveu emigrar para o Brasil. Por isso, no final das colheitas desse mesmo ano, decidiu procurar uma quinta que fosse mais pequena. Regressaram a Vitorino das Donas, desta vez para uma quinta bem mais fácil de granjear, pertencente ao Comendador Roussel de Sousa, chamada Quinta da Torre das Donas.

A vida de trabalho familiar foi gravemente perturbada 8 meses depois, na manhã do dia 9 de Março de 1963, quando um ataque cardíaco fulminante levou o seu pai para a eternidade, apenas com 56 anos de idade. O jovem Hilário, então com 15 anos, passou a ser um adulto e a representar seu pai no seio daquela família, onde havia uma criança com apenas 5 anos de idade.

Quatro anos mais tarde foi a vez de ele se lançar à vida. No dia 20 de Fevereiro de 1967, apenas com um saco pequeno às costas e sem se despedir de ninguém, saiu de casa e juntou-se a mais quatro rapazes, iniciando o “salto” para França. Em terras de Espanha foram-se juntando outros, fazendo um percurso feito quase sempre por montes, escondendo-se de dia e caminhando pela noite, valendo-se dos palheiros e das cortes de animais como esconderijos.

Esse inverno foi particularmente frio e a travessia das neves dos Pirenéus foi muito penosa. O grupo teve de fugir várias vezes dos carabineiros da Guarda Civil de Franco, tendo chegado ao fim de vinte dias de marcha a Endaye, de onde continuaram de autocarro até Paris. João Hilário só mais tarde compreendeu quanto sua mãe sofrera, não sabendo nada dele durante um mês.

O sonho de ir para França não era um pretexto para fugir ao serviço militar, mas sim para encontrar um futuro melhor. Nas aldeias, a maior parte das populações não tinha a noção da guerrilha que se travava nas colónias. Por isso, e por sentir o dever de servir a Pátria, dois anos depois decidiu regressar à sua terra com a intenção de se apresentar ao serviço militar, onde já era considerado refractário.

Assim, no dia 5 de Maio de 1969 foi chamado a assentar praça no R.I. 13 de Vila Real, tirando depois a especialidade de transmissões em Campolide, na Capital. Dez meses depois já embarcava para a província de Moçambique onde se bateu durante 26 meses numa unidade operacional que está descrita no livro “Memórias de uma Guerra”.

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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