Fernando Calheiros

 

Fernando Calheiros


Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima de 1990 a 1993

 



Alberto Moreira



O meu amigo José Pereira Fernandes, um limianista militante, a residir em Lisboa, a quem eu já apelidei de “Senhor Revista Limiana”, solicitou-me que elaborasse uma crónica sobre a figura de Fernando Augusto Vasconcelos Calheiros de Barros, alegando que eu privei muito de perto com esta personalidade durante muitos anos, e que, por isso, reunia as condições necessárias para fazer este trabalho escrito.

Apesar do convite ser muito honroso, tentei fazer-lhe ver que haveria muitas outras pessoas, com mais capacidade do que eu, para tamanha e nobre tarefa.

Mas dada a sua insistência não tive a menor hipótese de recusar o convite que me formulou, o que aceito com muito gosto.

O Fernando Calheiros nasceu na vila de Ponte de Lima no dia 21 de Abril de 1937, embora fazendo toda a sua vida familiar na freguesia de Rebordões-Souto, do concelho de Ponte de Lima.

No seu tempo de juventude frequentou o ensino básico e secundário no Colégio D. Maria Pia, à época com turmas mistas.

Após o período escolar, imbuído de um nato jeito para o desenho, enveredou pela profissão de desenhador técnico, ligado à construção civil.

Mas o exercício desta actividade em breve haveria de ser interrompido, para nunca mais aí regressar, quando foi eleito para exercer, como independente do Centro Democrático Social, o cargo de Vereador na Câmara Municipal de Ponte de Lima, onde pontificava como Presidente o Ex.mo Sr. Dr. João Abreu Lima, recentemente falecido.

No entanto, com a candidatura, bem sucedida, do Dr. João Abreu Lima para deputado da Assembleia da República, por vários mandatos, a gestão Camarária corrente ficou totalmente entregue ao seu vereador favorito Fernando Calheiros, que actuava como Presidente da Câmara substituto, só não o fazendo nos actos oficiais que decorriam ao fim de semana, quando o Dr. João Abreu Lima regressava à vila de Ponte de Lima.

Por esta altura os meus contactos com o Fernando Calheiros limitavam-se às diligências formais que, como causídico, tinha de realizar, em nome dos meus constituintes, na Câmara Municipal, sem qualquer grau de aproximação, sendo, no entanto, sempre bem recebido e tratado nos contactos que ia mantendo com ele.

Por circunstâncias da vida, em 1989, comecei a conhecer mais de perto o Fernando Calheiros, pelo facto de ter concorrido às eleições da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, ele no lugar de Provedor, e, eu na função de Vice-Provedor, a par de uma excelente equipa que foi então eleita e se manteve em exercício até ao ano de 2000.

Neste intervalo, o Fernando Calheiros concorreu às eleições autárquicas para o Município de Ponte de Lima e foi eleito Presidente entre 1989/1993, sucedendo ao Ex.mo Sr. Dr. Francisco Abreu Lima, tendo acumulado estas funções com as de Provedor da Santa Casa da Misericórdia.

Fernando Calheiros, homem de fortes convicções, virtude que pude comprovar com o cimentar do convívio que passei a manter com ele, no serviço à comunidade local, desde o início assumiu, como ponto de honra, que só cumpriria um mandato como Presidente da Câmara, e cumpriu, apesar das pressões sofridas para renovar o seu mandato, sucedendo-lhe o seu vereador Delfim, Eng.º Daniel Campelo.

Acresce que o Fernando Calheiros não teve as tarefas facilitadas, não só na Câmara Municipal, como na Santa Casa da Misericórdia, mas, com trabalho, persistência e inteligência, resolveu com êxito os problemas que lhe surgiram.

Quando entrou para a Santa Casa da Misericórdia teve de resolver o “problema dos cursos profissionais” que recebeu de herança dos órgãos sociais anteriores, e, na Câmara Municipal, quando tomou posse, tinha pela frente um problema difícil de solucionar, que tinha a ver com os “regadios”, mas, sem acusar ou culpabilizar ninguém, conseguiu resolver estes assuntos.

O Fernando Calheiros, ainda como Provedor da Santa Casa, e depois de deixar voluntariamente a Câmara Municipal, ainda deu um grande contributo à comunidade limiana, ao assumir a Presidência dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima em 1997/2000, sucedendo ao mítico Presidente de então Sr. João Lopes de Araújo Ferreira.

Muita coisa se poderia dizer de Fernando Calheiros, mas a mais importante é a que preza os amigos e defende-os onde quer que seja, mesmo que isso lhe possa causar eventuais prejuízos.

Para memória futura Fernando Calheiros deixou, no seu mandato camarário obras importantes como seja a Biblioteca e as Piscinas Municipais, a Recuperação dos Paços do Concelho e muitos outros projectos aprovados que os futuros Presidentes deram continuidade.

Depois de ter deixado a vida activa, Fernando Calheiros dedicou-se à investigação e escrita, tendo produzido, a expensas suas, vários livros, destacando, por ser o primeiro, a obra “As possíveis origens e o ordenamento da vila e evolução histórica do tema do concelho – 2005”.

Ao Fernando Calheiros se deve a célebre frase sobre se Ponte de Lima é a vila mais antiga de Portugal, ao defender, com muita originalidade que “Ponte de Lima é mais antiga que Portugal”.

Muito mais poderia dizer, mas a limitação do espaço obriga-me a ficar por aqui, apenas para manifestar que sinto um enorme privilégio por Fernando Calheiros me contar como seu amigo. Obrigado.

 Ponte de Lima, 5 de Maio de 2016

Nota do Editor
Fernando Augusto Vasconcelos Calheiros de Barros faleceu no dia 23 de Dezembro de 2019, com 82 anos. O seu funeral realizou-se no dia 25 do mesmo mês, Dia de Natal, tendo sido sepultado no Cemitério Municipal da freguesia de Rebordões Souto, concelho de Ponte de Lima, onde residia.

 

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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